Dado comprova descumprimento de lei que desde 2003 obriga o ensino das culturas afro e indígena nas escolas
“Acabar com o racismo é importante porque, tipo, o celular de alguém caiu, aí o homem negro vai entregar para a moça e aí vai pensar que é ladrão porque pegou o celular dela só porque é negro. Por causa do racismo.”
Júlia Ester Sousa da Silva é uma menina negra de nove anos que mora na Vila Planalto, em Brasília. Ela aprendeu sobre identidade negra e racismo dentro de casa. A irmã mais velha, Mara Karina, de 32 anos, segue os ensinamentos do avô e ensina para Júlia o que a escola ainda não consegue.
“A gente trabalha essa questão racial com a Júlia a partir da valorização mesmo da beleza dela, da beleza negra, do cabelo dela, dela compreender que as pessoas precisam respeitar ela.”
Uma pesquisa do Ceert, Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades, mostra que 24% das escolas públicas do Brasil ainda não discutem o racismo. Isso mesmo com uma lei que desde 2003 obriga o ensino das culturas afro e indígena nas escolas.
Um dos grandes desafios que os pesquisadores identificaram é a educação infantil. A professora Débora Tatiana de Morais enfrenta esse desafio há nove anos em uma escola pública do Distrito Federal. Ela acredita que o fundamental é preparar as professoras para o trabalho de conscientização.
“É preciso que os profissionais de educação tenham essa qualificação. Entenderem como é que o racismo se apresenta, como que ele se manifesta para depois a gente pensar no combate a ele. Se a gente não conseguir nem reconhecer o racismo, é difícil combatê-lo uma vez que a gente não sabe que ele está ali.”
A ONU, Organização das Nações Unidas, estabeleceu o dia 21 de março como o Dia Internacional contra a Discriminação Racial. Nesta mesma data, em 1960, vinte mil pessoas protestavam o apartheid na África do Sul. Sessenta e nove pessoas morreram e 180 ficaram feridas.
Neste ano, a morte da vereadora Marielle Franco, no Rio de Janeiro, é considerada por movimentos sociais, especialistas e autoridades internacionais um novo marco na luta contra o racismo. A parlamentar negra defendia os direitos humanos, combatendo o racismo, as desigualdades de gênero, a lesbofobia e a violência nas periferias e favelas.
Fonte: Radioagência Nacional