Sobre ser mulher

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Quase todos os dias ouço alguém me dizer que avançamos, e que hoje realmente somos “valorizadas”, temos direitos e obtivemos muitas conquistas. Sério? Mas pera aí, pô! Sei que até avançamos e com muita luta conquistamos vários espaços, sim. Mas ainda continua arriscado ser mulher na atual realidade.

A real é que para ter um pouco de espaço muitas sofreram no passado para que pudéssemos hoje está lutando a cada dia por nossos direitos. Mesmo assim muitos desses direitos ainda são negados durante a caminhada.

Trabalhamos, dupla, tripla ou sei lá quantas jornadas. Temos que aguentar, diariamente, as cantadinhas nojentas na rua. Somos menos remuneradas. Ocupamos os locais de trabalho mais escassos. Agora estão nos impedindo até de estudar, como foi o caso da estudante do curso de ciências sociais da UFRN.

O fato aconteceu na terça-feira (06/02), quando o professor graduado e mestre em Ciências Sociais (UFRN), doutor (Universidade de Paris René Descartes) e pós-doutor em sociologia (UFRJ), Alípio Sousa Filho, afirmou que a aluna não poderia assistir aula acompanhada da sua filha de apenas 5 anos.

Walesca Lopes, 24 anos, mãe solteira desde os 18, sem apoio dos pais que moram no Rio de Janeiro, que não tem condições financeiras para pagar uma babá e não tem com quem deixar a filha, leva a menina para assistir as aulas. Até então não havia tido nenhum problema, até que esse professor se manifestou da forma mais absurda que existe, que é o machismo.

O argumento do professor de ciências sociais, que impediu a aluna de assistir as suas aulas acompanhada da filha, é extremamente absurdo. Ele pergunta se a criança não tem pai e manda ela repensar sobre a vida, e que se ela não tem condições de estudar que dê a vaga para outra pessoa.

Isso é um absurdo, em pleno século XXI onde as coisas estão cada vez mais visíveis na mídia, quando se tem um índice imenso de violência contra a mulher, enquanto existe feminicídio acontecendo, enquanto homens se acham superior a qualquer situação e a mulher que se vire, um professor de ciências sociais tomar uma posição totalmente machista.

Nós não aceitaremos qualquer tipo de violência ou qualquer tipo de caso que venha retroceder o que conquistamos com muita luta. Todas nós temos o direito de estudar, se formar, trabalhar e ter uma vida digna.

E já que nós mulheres acarretamos tudo nas costas, então que sejam disponibilizados programas sociais que possam nos amparar e amparar os nossos filhos. Até então estaremos ocupando sim, universidades e diversos outros espaços com nossos filhos no colo.

A luta não para, até que todas sejamos livres de todo o machismo e toda a opressão que o capitalismo nos impõe.

Texto: Taiana Marques