Não há motivo para comemorar queda da inflação, diz economista

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Paulo Kliass disse, em entrevista ao Brasil de Fato, que queda dos preços está baseada no desemprego e na recessão

Marcos Santos/ USP Imagens

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor, um dos medidores da taxa de inflação, fechou 2017 abaixo da meta estabelecida pelo governo. É a primeira vez que isso ocorre desde a implantação do regime de metas em 1999. Mas, algumas das razões determinantes para a queda, como a recessão e o desemprego, não são positivas.

Inflação baixa significa maior poder de compra para os assalariados porque com o mesmo dinheiro é possível adquirir mais coisas do que quando a inflação está alta.

O governo e as grandes empresas de comunicação celebraram a queda da inflação, mas Paulo Kliass, doutor em Economia e especialista em políticas públicas e gestão governamental, ressalta que há poucos motivos para comemorar. Ele explica que a queda do IPCA não se deu só por conta da diminuição do preço dos alimentos ocorrida por conta da safra recorde, mas também porque havia menos gente comprando ou, em termos econômicos, menos demanda.

“Nesse caso objetivo, para o fato de o IPCA ter atingido pela primeira vez na história um valor abaixo do piso [da meta], há uma recessão acentuada. Durante os últimos dois anos e meio, o Brasil vive uma recessão que nunca aconteceu. Além disso, há efeito sobre a massa de rendimentos extremamente reduzido, pois há uma quantidade enorme de desempregados. A renda das famílias caiu enormemente”, aponta

O economista alerta que algum nível de inflação sempre existe quando há crescimento econômico e que o Estado deve buscar medidas mitigatórias para tal processo.

A análise de Kliass coincide com os dados do Índice de Custo de Vida e da Pesquisa Emprego e Desemprego do Dieese. Os levantamentos indicam que a renda média do trabalhador e o poder de compra das Famílias diminuiu em São Paulo. Ao longo de 2017, a renda do trabalhador caiu 0,7%.

O IPCA fechou 2017 em 2,95%. O governo prevê uma inflação de 4% nos próximos anos. Temer, entretanto, deprimiu o poder de compra ao reajustar o salário mínimo pela segunda vez consecutiva abaixo da inflação.

Fonte: Brasil de Fato