O verdadeiro reality show

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Brasília tornou-se um espetáculo mais deprimente que o “Big Brother” e “A Fazenda”. O eleitor terá a chance de excluir os participantes em 2018

Vivemos em um reality show. Não o tão previsível “Big Brother”, tampouco a insossa “A Fazenda”. É melhor, muito melhor. Nosso reality show ocorre em Brasília, nos corredores almofadados com cheiro pútrido. A veloz internet nos permite ver homens e mulheres em verdadeiros embaraços, mas não o embaraço de quem está fora de si ou bate panelas. Não os fofoqueiros na academia, muito menos os bêbados a estragar o luau com músicas da banda Calypso.

Presenciamos os engravatados a entrar e sair de reuniões abstrusas na madrugada, o deputado desbocado e machista que quer se tornar presidente da República, ou o outro, caras e bocas e tatuagem de hena no ombro em homenagem ao presidente investigado (ainda bem que ela está no ombro).

E há Joesley e Wesley Batista, nome de dupla sertaneja do início dos anos 1990, daquelas que só lembramos quando ouvimos a música em alguma estação de rádio AM do interior. São, entretanto, personalidades, verdadeiras estrelas deste reality. Deveriam ir para a roça e ser eliminados, pois compraram o ingresso para o programa. Pagaram muito, aliás, segundo suas delações, primeiro ao governo do homem do ABC que nada sabe, depois para a Dama de vermelho, e por último ao personagem excêntrico da Família Addams que atualmente habita o Palácio do Planalto.

Joesley. Este sim deveria perder todas as estalecas pela péssima performance. Um homem bilionário, que paga milhões de reais em propinas e utiliza um gravador ruim comprado na rua 25 de Março para grampear os demais participantes do reality. Esperávamos, no mínimo, um sistema de espionagem dos filmes de Hollywood.

E o que falar do peão Aécio Neves. Ouvir a gravação, clandestina como ele gosta de enfatizar, foi o ápice. Ele falou 9.502 palavras, das quais 9,5 mil palavrões. Poderia entrar para o Guinness Book como o mineiro que mais fala patuscadas na face da terra. Por sorte ou força de articulação, ganhou o colar do anjo com a imunidade dos seus colegas do quarto Lava Jato.

Trata-se, aliás, de um exímio líder que convence a todos a seguir seu jogo e persuade o coitado do participante do gravador ruim a comprar um apartamento por 2 milhões de reais sem visitar o imóvel. Quando deixar o reality, certamente Aécio Neves será contratado para atuar na área comercial de algum dos conglomerados imobiliários localizados na Avenida Faria Lima, em São Paulo.

Nosso reality empolga. É espantoso o líder, aquele integrante excêntrico da família Addams, também burlesco, seguramente o mais engraçado. Foi hilário o episódio no qual, de forma atabalhoada, enviou uma carta à Dama de Vermelho, reclamando por ser “decorativo”.

Neste episódio, talvez, a clara sinalização de que trocaria de grupo e não pensaria meio minuto antes de colocar a então líder, que não exercia nenhum tipo de liderança, no paredão.

Não obstante ao fato exposto, antes mesmo da líder ser eliminada, ele preparava o seu discurso de posse. Leva consigo, ao pé da letra, a frase dita por José Maria Alkmin: “O que importa não é o fato, mas a versão”.

Essas são algumas das muitas proezas do reality show de Brasília. Cabe a nós eleitores, no paredão de 2018, eliminarmos todos os participantes sem caráter e sem conteúdo e que não auxiliam em nada na limpeza da cozinha da casa chamada Brasil.

Fonte: Carta Capital