Após anos de intensa movimentação popular, nas ruas de todo o País, o brasileiro agora observa, atento, dentro de casa. Mas quais seriam as razões para esse comportamento?
Desde o começo das manifestações que ocorreram em junho de 2013, cujo estopim foi o aumento das passagens no transporte público, diversos protestos e escândalos políticos começaram a fazer parte dos noticiários. Nesta enxurrada de polêmicas e prisões, a Internet tornou-se solo fértil para inúmeras ações em massa. A alta quantidade de comentários e publicações ligadas ao tema, constantemente, ganham proporções globais.
Segundo a pesquisa da Worldwide Independent Network of Market Research (WIN), realizada em 2015, o percentual de brasileiros que leram sobre temas políticos nas redes sociais, seguiram páginas relacionadas ao assunto, ou postaram comentários relativos às questões políticas, no período de 12 meses do referido ano, era de 87%.
Número que coloca o Brasil como o sul-americano que mais fala de política na Web, superando com folga a média geral do continente, estimada em 59%.
Se por um lado a população mostra-se mais atenta, pelo outro é possível notar uma evidente falta de mobilização social. Comportamento muito diferente dos turbulentos protestos que tomaram as ruas do Brasil até o segundo semestre de 2016.
Para entender quais seriam os possíveis motivos para essa retração popular, reunimos a opinião de três profissionais sobre o assunto:
Confiança no Judiciário e Ministério Público
Devido o alto número de possíveis casos de corrupção divulgados pela mídia, muitos membros da justiça federal ganharam notoriedade perante a sociedade nos últimos anos. Grupos que pedem a candidatura de juízes e promotores, para cargos governamentais, se multiplicaram nas redes sociais.
Segundo a advogada Valeska Teixeira Zanin, determinadas declarações de agentes públicos têm como foco central à imprensa: “é uma grande ‘espetacularização’ da justiça, que acaba colidindo com o seu próprio conceito. A justiça não deve ter esse protagonismo, eles (funcionários do judiciário) estão ali apenas para cumprir a lei”.
Mesmo através dessa árdua atenção midiática, o estudo realizado pela Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas, o “Índice de Confiança na Justiça 2016” (ICJBrasil), aponta que o Poder Judiciário tem 29% da confiança da população.
Percentual baixo se comparado às Forças Armadas (59%) e alto se comparado com os partidos políticos (7%). Já o Ministério Público aparece em 4º lugar, com 36% de confiabilidade.
Desânimo Popular
Milhares de brasileiros invadiram as ruas do País com o objetivo de manifestar seus ideais e desejos que, por inúmeras vezes, eram divergentes. Os atos traziam consigo palavras de ordem e promoviam, em alguns casos, ações de vandalismo. Contudo, a sensação de mudança acabou não sendo alcançada. Fato que trouxe ares de frustração a boa parcela da população.
Segundo a psicóloga Tabata Pestana, a sociedade brasileira pode estar passando por um momento chamado de Desamparo Aprendido – sentimento de impotência e incapacidade para enfrentar circunstâncias, levando o indivíduo a se posicionar de forma passiva. “As pessoas que protestavam faziam isso a fim de eliminar um estimulo aversivo, algo que os fazia mal. No caso, a corrupção na política”, concluiu Tabata.
Entretanto, a situação apontada pode ser superada por um estímulo positivo, como por exemplo, a real ciência que a ausência de corrupção transformaria totalmente a realidade daquele indivíduo. Indução que poderia ocasionar nova vontade de ação.
Outra hipótese citada pela psicóloga cria um elo entre a alta porcentagem de brasileiros que buscam informações, mesmo que superficiais, sobre política na internet. “Existe a questão da autoproteção também, afinal se colocar em risco é uma aversão natural e em um protesto, querendo ou não, você esta exposto”, ressaltou a psicóloga.
Educação Política
Para o sociólogo Marco Antônio Bin, esse momento de menor participação popular é o resultado da ausência de formação política do brasileiro. “O que faltou para a sociedade em geral, desde o início dos grandes atos (2013), foi o consciência política. As pessoas ficaram órfãs do conhecimento na hora do enfrentamento ideológico”, concluiu o professor.
Ainda Segundo Marco, a frágil fundamentação educacional oferecida nas escolas brasileiras possibilitou que grupos partidários influenciassem a população em determinados momentos, ocasionando uma frustração endêmica com a inexistência de mudança no cenário governamental nacional.
Mesmo com o atual momento de passividade, o especialista reforça uma possível tendência para o futuro. “Esse refluxo pode ser momentâneo. Eu não descartaria a retomada das manifestações”, ressaltou o sociólogo.
Fonte: Justificando