No Brasil, a notícia mais esperada no início do segundo semestre, foi a votação pela Câmara dos Deputados do relatório que acusava o presidente interino Michel Temer de corrupção. As negociações que a sociedade assistiu entre governo e Congresso, para impedir que Temer fosse investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), foram dignas da fama desabonadora que alcançou a classe política brasileira.
Mas não podemos dizer que o dia em que a Câmara barrou a denúncia por corrupção contra o presidente Temer, deva ser visto como o dia da vergonha, como sugeriu o dono da JBS, Joesley Batista autor da gravação que gerou a denúncia e a segunda denúncia contra o presidente deverá seguir os mesmos passos da primeira, isto é, ser rejeitada pela Câmara dos Deputados e impedida de chegar ao STF.
Este é o prognóstico que nos dá o sistema político brasileiro, solidamente fundamentado na corrupção.
Se voltarmos a março de 2016, vamos ver o outro lado da mesma moeda. Naquela ocasião os senadores Ricardo Ferraço (PSDB-ES), José Medeiros (PSD-MT) e Carla Zambelli, representando a Aliança Nacional dos Movimentos Democráticos, entraram com uma representação na Procuradoria Geral da República contra a presidente Dilma Rousseff e o ministro-chefe do gabinete pessoal da presidência, Jaques Wagner, por possível ato de improbidade administrativa em função de negociatas do governo junto ao Congresso, para capitanear votos contrários ao impeachment.
Neste mesmo mês (março) o governo Dilma liberou cerca de R$ 70 milhões em emendas, com o objetivo de barrar os votos a favor do impeachment, e articulou um balcão de negócios para a redistribuição de cargos na Esplanada dos Ministérios, com custos de aproximadamente R$ 38 bilhões.
O próprio Joesley Batista, que grampeou o atual presidente interino Michel Temer, disse que o deputado João Carlos Bacelar, pediu R$ 150 milhões para comprar 30 votos contra impeachment de Dilma Rousseff. O Dono da JBS disse que na época, autorizou a compra de 5 votos, por R$ 3 milhões.
Retrocedendo ao governo Fernando Henrique Cardoso, (1995 – 2003) constatamos a mesma prática de compra de votos na Câmara dos Deputados.
O ex-deputado Pedro Corrêa (PP-PE), condenado a 20 anos pelo juiz Sérgio Moro, confessou em delação premiada, que desde a sua estreia como parlamentar em 1978, se envolveu em atos ilícitos e que “um dos momentos mais espúrios” que presenciou, foi o episódio da reeleição de Fernando Henrique Cardoso (PSDB/1994-2002) em 1997. Corrêa diz que houve uma disputa de propinas envolvendo compra de votos a favor da reeleição de FHC e a favor do hoje deputado federal Paulo Maluf (PP-SP), que na época disputava a presidência.
Comentando sobre o episódio, o ex-senador Pedro Simon (PMDB) disse que mais de 150 parlamentares venderam o voto. A declaração de Pedro Corrêa é respaldada por 40 anos de intimidade com o poder, o ex-deputado é um veterano da política brasileira que apoiou desde os governos militares ao governo Sarney, na redemocratização, passando por Fernando Henrique Cardoso e Lula, é uma espécie de memorial da corrupção.
Temos, portanto, estabelecido no parlamento brasileiro, o comércio da compra e venda de votos, costume antigo e aceito produzido por um sistema político solidamente fundamentado na corruptocracia, onde se materializa os crimes de corrupção ativa e passiva.
Agora, com a rejeição da denúncia contra o presidente Temer, ocorrida em 02 de agosto de 2017, a Câmara dos Deputados, comete também, (moralmente) crime de obstrução de justiça já que impede o Supremo Tribunal Federal, de investigar o presidente da república por crime de corrupção, o que deve se repetir agora com a segunda denúncia.
Todo esse esquema de corrupção que nós brasileiros conhecemos bem, pode ser sintetizado nas palavras do professor Barry Ames, da Universidade de Pittsburgh, (EUA) quando diz: “O sistema político brasileiro não só favorece a corrupção, mas depende dela para seu funcionamento”.
Fonte: Justificando