Comissão de Fábrica identifica problema na intensidade do trabalho

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Montadora do Paraná que conquistou a jornada de trabalho de 40 horas, em 1995, vê a intensidade do trabalho como desencadeador de acidentes

Pedro Carrano
de Curitiba (PR)

Uma das raras experiências consolidadas no Brasil de organização por local de trabalho, a Comissão de Fábrica da Volvo (CFV) completa 25 anos e negocia diretamente com a montadora sueca questões como condições no local de trabalho, ritmo e segurança do trabalho.

De acordo com os coordenadores da CFV, um dos fatores preocupantes é a intensidade do ritmo de produção. Este é motivo de negociação constante entre a direção da empresa e a Comissão de Fábrica.

“O acompanhamento é da Cipa. E a comissão faz um papel mais gerencial, verificando se aumenta ou diminui o número de acidentes. Identificamos no dia a dia e acompanhamos as condições dos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e as condições das ferramentas”, indica Rogério dos Santos, coordenador da Comissão de Fábrica da Volvo. O ponto de partida para os representantes dos trabalhadores da Volvo é o ritmo de trabalho adequado na esteira de produção, uma vez que a produtividade do trabalho na empresa chegou a dobrar entre 1999 e 2007, de acordo com dados da Anfavea, de 2008.

“Cuidamos do ritmo de trabalho. Na linha de montagem, percebemos diferentes ritmos em relação a outras montadoras (que não possuem comissão de fábrica), enquanto em muitas há cerca de 200 pessoas afastadas, aqui temos no geral cerca de 50”, afirma Santos. Sebastião Fagundes, secretário da CFV, afi rma que as empresas abrem o Comunicado de Acidente de Trabalho (CAT) em caso de acidentes graves e notórios.

Porém, isso não ocorre quando surge um problema de Saúde do Trabalhador. “A CAT é aberta na hora em caso de acidente grave, porém em casos de Ler/Dort não é aberto, o que deman da uma investigação por parte da empresa”, confirma.

O problema enfrentado pelos operários da Volvo diz respeito aos trabalhadores cedidos para algum serviço de suporte na fornecedora de peças, quando precisam deslocar-se para outro local de trabalho.

Em 1995, os trabalhadores da Volvo alcançaram a jornada de trabalho de 40 horas semanais, o que serviu de precedente para que outras montadoras de Curitiba e região tivessem essa conquista, anos mais tarde. Ainda que os trabalhadores interfiram no programa de produção

da empresa, eles comentam que há sempre a tentativa por parte da montadora de garantir mais horas-extras, na contramão da legislação brasileira, que permite duas horas diárias.

A ex-metalúrgica Rosa também indica que o ritmo de produção pode levar a acidentes, algo que pesou no caso de amputação do seu dedo. “Na época quando me acidentei, passamos da produção de 200 peças por hora para 400 peças. Passamos a produzir o dobro, e as chefias ficavam em cima da gente”, reclama.

Educação insuficiente

O pesquisador Pedro Ernani Kosiba reflete que a inserção de novas tecnologias e a intensificação do ritmo de trabalho são ameaças à Saúde do Trabalhador. “Quando se alteram as tecnologias surgem novos riscos de acidentes de trabalho e novas doenças. Além de que os riscos ultrapassam os locais de trabalho e chegam até as gerências cada vez mais exigentes”, afirma.

Há uma série de problemas na educação dos trabalhadores e dos cipeiros. “Em relação à formação de cipeiros e devido à ocupação no trabalho, estes não conseguem transmitir essa formação aos demais colegas do trabalho. Por isso a educação em segurança do trabalho é sempre insuficiente”, reflete.

Rosa afirma que, pouco depois do acidente, os engenheiros do trabalho ligados à empresa consertaram a máquina onde ela operava, que já estava em péssimas condições. “Foi negligência deles. A máquina estava em estado ruim. Eles resolveram o problema em questão de horas. Eles poderiam ter feito antes, mas relaxaram”, denuncia.

A trabalhadora estava na empresa para pagar a faculdade, e afirma que pretende agora entrar em “outro mercado”. Admite que se continuasse como metalúrgica seria difícil conseguir outro trabalho, após o acidente e a demissão. “Isso fica marcado. As empresas não pegam por causa disso, pelo acidente de trabalho, mas não pretendo mais voltar para essa área. Agora estou fazendo faculdade para Recursos Humanos”, finaliza.

| Fonte: Brasil de Fato