Ao contrário dos discursos dos deputados que o salvaram, o peemedebista tornou-se o principal fator de insegurança política, econômica e social
Nenhum dos deputados que votaram pela suspensão da denúncia contra Michel Temer por corrupção passiva dedicou o voto à esposa, à mãe ou aos filhos, como haviam feito no impeachment de Dilma Rousseff. Dessa vez, as dedicatórias deram lugar a justificativas. E a mais evocada foi a estabilidade econômica.
Estabilidade? Mas como, se o PIB brasileiro é inferior ao registrado no último trimestre do governo Dilma, se as vendas no varejo continuam estagnadas e se o volume de serviços ainda é bem menor do que o verificado há um ano? Como alegar estabilidade num país em que a taxa de desemprego continua elevada e a formalidade no mercado de trabalho segue a cair?
De que estabilidade falavam os deputados temeristas se as contas públicas, com o crescimento da dívida do governo e com o aumento do déficit público, só fazem piorar? E se algum incauto alegar que o índice inflacionário está em queda, deve saber que isso acontece não por virtude da política econômica do governo, mas porque, ao contrário, o País vive uma recessão profunda.
Então, que estabilidade é essa que não resiste a uma aferição completa de seus parâmetros? Só com o falseamento da realidade se pode sustentar que setores diretamente responsáveis pelo desempenho econômico como comércio, indústria e serviços não são afetados pela existência de 13 milhões de desempregados.
No Brasil real, a estabilidade alegada é mentirosa. Pois sem avaliação de indicadores sociais, qualquer análise econômica é precária. E esses indicadores são perigosamente alarmantes no Brasil de Temer: mais de 125 mil famílias retornaram ao principal programa de renda mínima do País e há outro meio milhão na fila de espera do Bolsa Família. Tanto é assim que entidades internacionais como a FAO alertam para a volta do Brasil ao vergonhoso mapa da fome mundial.
O congelamento de recursos para a saúde mata milhares de pobres sem atendimento. Na educação, como confessou um deputado da base governista, o País voltou ao tempo do “quem não tem dinheiro não estuda”. E nos estados, as populações veem explodir índices de chacinas, assassinatos, roubos e toda a sorte de violências. Estabilidade num cenário desses? Não, a única coisa estável no Brasil de hoje é a disposição governamental para conceder favores, benesses e privilégios aos poderosos. Nesse sentido, nada mais emblemático do que a anistia às dívidas do latifúndio concedida por Temer poucas horas antes da votação que definiria a sua permanência, ou não, no cargo.
A verdade é que, diferentemente do que alegaram os deputados para impedir que Temer acertasse suas contas com a Justiça, o País não vive um clima de estabilidade. Não apenas porque os indicadores econômicos são preocupantes e os sociais são perturbadores, mas porque justamente o maior responsável pelas políticas que deveriam acomodar essas áreas é um homem denunciado por corrupção passiva e em vias de ser denunciado, também, por obstrução da Justiça e organização criminosa.
É a situação do próprio Temer, portanto, o maior fator de instabilidade do Brasil atual.
Fonte: Carta Capital