O povo brasileiro não é passivo
A sequência de porradas na cara do povo não para: uma presidenta eleita por voto popular foi afastada sem cometer crime, um novo governo começa, com a promessa de arrumar a economia, gerar empregos e – o que mais? Acabar com a corrupção, claro.
Pouco mais de um ano depois, o Brasil conta com 14 milhões de desempregados, gasolina mais cara, leis trabalhistas no lixo, o sonho da aposentadoria ameaçado, aumento da fome, corte em programas sociais, em saúde, educação e cultura. E sobre a corrupção: precisa falar? Cada dia um escândalo novo, cada dia mais um poderoso do Congresso envolvido em denúncias de cifras milionárias, e cada dia mais sensação de impunidade.
Diante disso tudo, o que fazer? É muito comum ouvir ou essa pergunta ou uma reclamação de que “o povo está muito parado” ou que “a esquerda não sabe dar respostas ágeis”. Aliás, esse tipo de comentário é antigo, e se relaciona com outro, bem conhecido: “o povo brasileiro é muito pacífico”. Será que é?
Ao longo de toda a história do Brasil, organizaram-se centenas, milhares de focos de resistência. Os indígenas, os negros, as mulheres, os operários, trabalhadores de rua, os e as LGBTs, e tantos outros seguem em luta histórica por seus direitos. É preciso conhecer melhor nossa história para derrubarmos de vez o mito da passividade do brasileiro.
A luta compensa
Outro mito que é preciso derrubar: “não adianta fazer luta, nada muda mesmo”. Além de extremamente desmobilizadora, essa ideia não corresponde à realidade. Exemplos do contrário não faltam. Quem já participou de uma greve, de uma mobilização na escola, de uma ocupação, sabe que apenas em coletivo é possível pressionar quem tem o poder para conseguir sua reivindicação. E se não fossem as lutas, não teríamos metade dos direitos que temos hoje e sim muito mais medo de denunciar as opressões.
Assim, em um momento tão tenso de ofensiva contra os direitos conquistados, não podemos esperar que alguém faça a resistência por nós. Vale tudo: parar a produção, piquete, greve, protesto, panfleto, debate. Mas o principal é sempre chamar mais um. É nos unirmos aos outros. Participarmos de mobilizações coletivas. Filiarmo-nos aos sindicatos. Fortalecermos as ferramentas de luta que existem. Se elas estiverem mal das pernas, é preciso ajudar a reconstruí-las. Construir novas. Aproveitar o descontentamento e a indignação das pessoas e discutir as origens e consequências do que acontece. Pensar saídas, como poderia ser.
É preciso resistir, cotidiana e coletivamente, ao desmonte de um país pelo qual todos somos responsáveis.
Fonte: Brasil de Fato