Você sabia que Paraisópolis, favela encravada ao lado do Morumbi, um dos bairros mais nobres de São Paulo, tem a maior densidade populacional do Brasil, com mais de 45 mil pessoas por quilômetro quadrado – km²?
Ou, ainda, que a favela da Rocinha, entre os bairros de São Conrado e Gávea, também dos mais nobres do Rio de Janeiro, localizada na zona sul da cidade e considerada a maior favela da América Latina, tem a segunda maior densidade populacional do país, com mais de 39 mil moradores por km², seguida pela Favela Nova Holanda, na zona norte do Rio, com uma densidade de mais de 35 mil pessoas também por km²?
Em Paraisópolis, vizinha de mansões e prédios de luxo do Morumbi, e um dos símbolos da desigualdade da cidade, se comprimem mais de 100 mil habitantes. Apesar da alta densidade populacional (cerca de mil habitantes por hectare) somente 25% moram em residências dotadas de rede de esgoto, metade das ruas não é asfaltada e 60% utilizam meios irregulares para obtenção de energia elétrica.
Algumas destas informações estão sendo disponibilizadas a partir de hoje (16) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que divulgou a Grade Estatística e o Atlas Digital Brasil 1 por 1, elaborado a partir de dados extraídos do Censo Demográfico 2010.
A Grade Estatística traz informações sobre população total ou por sexo e o total de domicílios do censo demográfico de 2010 para diversos recortes espaciais, como regiões hidrográficas, biomas e unidades de relevo.
Para tanto, a grade divide o território em células de 200x 200m nas áreas urbanas e 1×1 km nas áreas rurais, permitindo agregar os dados independentemente das divisões político-administrativas.
Mapas
Já o Atlas Digital Brasil 1 por 1 apresenta uma visão detalhada e inédita das principais variáveis coletadas pelo Censo Demográfico 2010, com mapas que retratam a heterogeneidade do país.
Além das características das pessoas (sexo, idade, cor/raça, alfabetização, registro de nascimento) e dos domicílios (tipologia, propriedade do imóvel, saneamento ambiental, energia elétrica, rendimento médio per capita, responsabilidade pelo domicílio), o Atlas apresenta, também, dados sobre as características do entorno das residências, com informações sobre a existência ou não de identificação do logradouro, iluminação pública, calçada, meio-fio, pavimentação, bueiro, rampa para portadores de deficiência, arborização, esgoto a céu aberto e lixo.
Utilizando os resultados do Censo 2010 e a divisão em Grade Estatística, o IBGE disponibiliza aos usuários produtos que possibilitam uma aplicação interativa para visualização e consulta, que permite que se desenhe qualquer área na tela e obtenha os dados sobre população (total e por sexo) e domicílios; e mapas interativos, com informações por biomas, regiões hidrográficas, clima, altitude e relevo.
Valor das informações
Ao falar sobre as duas publicações, a coordenadora de Projetos Especiais do IBGE, Maria do Carmo Bueno, disse que a Grade Estatística divide o território brasileiro em mais de 2,5 milhões de células, “permitindo a recuperação de informações relativas à população, tanto a total como a dividida por sexo, assim como por domicílios para os diversos recortes parciais e de forma totalmente independente das unidades políticas administrativas da federação”.
“Por meio da Grade Estatística é possível obter dados sobre as populações, dos biomas, das regiões geográficas, unidades de relevo e das zonas climáticas de todo o país. Também permite a realização de estimativas de populações atingidas por desastres climáticos ou ambientais e podem ser utilizadas em modelos de simulação de expansão urbana ou de uso da terra”.
Maria do Carmo ressaltou que a publicação ainda facilita a comparação internacional e nacional de informações. “Eles foram desenvolvidos a partir de dados numéricos decorrentes de micro dados do Censo 2010 e dos dados vetoriais da base territorial e do cadastro nacional de endereços para fins estatísticos”, enfatizou.
O IBGE ressaltou, ainda, o fato de que as grades estatísticas se constituem em uma forma de disseminação de dados em unidades geográficas pequenas e estáveis ao longo do tempo. Na avaliação do IBGE, o sistema facilita a comparação nacional e internacional e fornece um aumento significativo do detalhamento nas áreas urbanas (onde a célula tem 200×200 m) e rurais (onde a célula tem 1×1 km) e é utilizado em países como a Finlândia, Suécia, Espanha, Austrália e Japão.
Ainda segundo o IBGE, na década de 70 o sistema foi usado pela primeira vez no Japão para divulgar estatísticas provenientes de diversas pesquisas para a área metropolitana de Tóquio “e, desde então, tanto o governo quanto empresas privadas realizam a coleta e a manutenção de dados regionais neste sistema, agora abrangendo todo o país”.
“Na Europa, ao longo daquela década, outros países, principalmente do norte europeu, também adotaram esse sistema, como a Finlândia, que disponibiliza dados censitários em grade desde 1970, e a Inglaterra, que gerou uma grade com os dados do censo de 1971, mas não manteve esta produção para os censos seguintes”, explicou o IBGE, que pretende divulgar o sistema nos próximos censos também nesse formato.
Fonte: agenciabrasil.ebc.com.br