Melhor “poder de escolha”, retorno ao mercado de trabalho por causa da crise e má qualidade de algumas universidades do País estão entre os motivos para piora do índice de emprego em 2015.
Entre 2012 e 2015, o número de brasileiros com diploma universitário que não encontra emprego cresceu 65,3%, variação superior à registrada em todas as outras faixas de instrução no mesmo período.
Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) trimestral, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), refletem o “poder de escolha” que possuem os brasileiros de diferentes classes sociais, explicou Cimar Azeredo, coordenador da PNAD.
“Pessoas de baixa renda que perdem o emprego tendem a retornar ao mercado de trabalho, inclusive à informalidade, mais rapidamente, por ter maior necessidade de trabalhar”, disse o especialista. “Quem tem maior poder aquisitivo, ou faz parte de família com maior renda, pode procurar emprego por mais tempo”, concluiu.
A chegada da crise econômica brasileira também trouxe de volta a busca por oportunidades de trabalho de alguns brasileiros que antes faziam cursos de especialização. Segundo Azeredo, pessoas que cursavam, por exemplo, mestrado ou doutorado, agora estão retornando ao mercado para melhorar a renda da família.
Por outro lado, o professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Antônio Carlos Alves dos Santos criticou a qualidade do ensino superior no País. “Nós temos um aumento do número de alunos cursando faculdades, mas muitos deles estão em escolas ruins e não conseguem emprego por causa disso”, analisa.
De acordo com o professor, mesmo quando a economia do País estava em um momento melhor, empresas optavam por não contratar alguns profissionais diplomados por causa da formação de má qualidade dos postulantes. “É o caso da engenharia, por exemplo: houve um aumento do número de alunos que frequentaram instituições de nível baixo mas, depois, não encontraram trabalho, ainda que na época houvesse oferta de vagas.”
Com o crescimento de 65,3% em três anos, o número de brasileiros com ensino superior que não encontra emprego chegou a 787 mil no terceiro trimestre do ano passado. Em igual período de 2012, eram 476 mil.
E o avanço do desemprego também foi alto entre aqueles que não completaram o ensino superior (59,8%). Para as outras faixas de instrução foram registrados aumentos menores: ensino médio completo (32,2%) e incompleto (24,3%), ensino fundamental completo (26,4%) e incompleto (22,9%), e sem instrução (4,2%).
Entretanto, mesmo com a elevação, os desempregados que contam com ensino superior completo representam apenas 8,8% de todos os brasileiros que não encontram trabalho. A maioria das faixas de instrução alcança taxas maiores: ensino fundamental incompleto (22,6%) e completo (11,5%), ensino médio completo (11,5%) e incompleto (35,9%). Completam o grupo de pessoas sem emprego aqueles que contam com ensino superior incompleto (6,5%) e os sem instrução (3,3%).
Cortes
Adriano Gomes, professor de administração da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), destacou que também estão acontecendo “cortes de vagas mais qualificadas, algo característico de momentos de crise em que as empresas estão cortando gastos”. Segundo ele, o aumento do número de profissionais qualificados que não estão em serviço prejudica a produtividade do País. “A retirada dos trabalhadores com maior conhecimento reduz a qualidade do trabalho realizado.”
Para o futuro, Santos disse acreditar que alguns dos diplomados serão incorporados ao mercado de trabalho quando a crise arrefecer, mas “pessoas com formação ruim” vão seguir com dificuldade para encontrar emprego. “Ainda terão problemas, mesmo quando a economia estiver em um momento melhor.”
Desemprego
A última divulgação da Pnad mensal, realizada pelo IBGE na sexta-feira passada, mostrou que o desemprego alcançou os 9% no trimestre encerrado em outubro do ano passado.
O número de brasileiros que estão procurando trabalho chegou a 9,1 milhões, alta de 5,3% (mais 455 mil pessoas) em relação ao trimestre de maio a julho e aumento de 38,3% (mais 2,5 milhões de pessoas) no confronto com igual trimestre de 2014.
Já o rendimento médio recebido pelos brasileiros por mês ficou em R$ 1.895. A quantia é um pouco inferior à registrada no trimestre encerrado em julho de 2015 (R$ 1.907) e à dos três meses concluídos em outubro de 2014 (R$ 1.914).
Fonte: fsindical.org.br