Mais de 40 mil correm risco de demissão na indústria automotiva

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Só setor de máquinas e equipamentos deve dispensar 20 mil este ano.

O metalúrgico Marco Maia Mantovani, de 31 anos, teve a jornada de trabalho e o salário reduzidos desde o ano passado, mas, na última segunda-feira, chegou a pior notícia: a demissão. Mantovani trabalhava na MWM, empresa que fabrica motores a diesel em São Paulo. A justificativa para o corte foi que a crise no segmento se acentuou no fim de 2015. Os três turnos de trabalho foram reduzidos a dois.

— Quero continuar na indústria automotiva, mas não sei quando vou conseguir me recolocar com essa enorme crise — diz Mantovani, ainda atordoado pela perda do emprego em que estava há seis anos.

Nas montadoras, diz Luiz Moan, presidente da Anfavea, que representa as fabricantes, há excedente de pessoal. Ao fim de 2015, havia 5.100 metalúrgicos no chamado regime de lay-off (suspensão temporária do contrato de trabalho) e outros 35.600 no Programa de Proteção ao Emprego (PPE) — redução da jornada de trabalho com consequente corte no salário. No total, 40.700 trabalhadores foram afetados por essas medidas e correm o risco de perder o emprego se a situação econômica não melhorar. No ano passado, foram demitidos 14 mil, cerca de 10% da força de trabalho nas montadoras.

Só no ABC Paulista, um dos polos da indústria automotiva, 11 empresas fecharam acordos de PPE, sendo três montadoras, cinco fábricas de autopeças, uma de estamparia automotiva, uma de robótica e duas de outros setores. Na Mercedes-Benz, a primeira montadora a aderir ao programa, 9.800 funcionários foram incluídos. Na Volkswagen, de São Bernardo, foram 9.300 trabalhadores e na Ford, 3.800. Nessas três empresas, 22,9 mil trabalhadores foram afetados pelas medidas, o equivalente a 56% do total dos participantes do programa do governo no país.

— As crises são cíclicas, crise que passa de dois anos (tempo de duração possível do PPE) é tragédia, é terra arrasada. O programa é uma boia para atravessar o rio — afirma Paulo Cayres, presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT, que apoia o plano de renovação de frota de caminhões, proposto por Moan. — Mas podemos olhar também para redução de lucros, de margem. Os carros são muito caros aqui.

‘RECOMENDAÇÃO É DEMITIR’

Nos últimos 15 anos, Mantovani só trabalhou como metalúrgico do setor automotivo. Ele não descarta procurar emprego em outra atividade, diante da crise no setor.

Se demorar muito tempo para encontrar uma vaga na minha área, vou ter que partir para outra ocupação — diz o metalúrgico, que é casado, pai de um menino de 6 anos e tinha salário próximo de R$ 3 mil. Os ganhos da mulher, que é enfermeira, estão sustentando a família até Mantovani conseguir outro emprego.

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Assim como esse setor, outros da cadeia também não devem abrir vagas, como o de máquinas e equipamentos que, depois de demitir 40 mil operários em 2015, prevê cortar mais 20 mil este ano. Desde 2014, o quadro de pessoal ficou 20% menor:

— Minha recomendação às empresas é demitir. Não há luz no fim do túnel, para que o investimento avance — afirma José Velloso Dias Carneiro, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).

Nas montadoras, os cortes não devem parar. A fábrica da Ford em Camaçari (BA), que demitiu pouco no ano passado, abriu plano de demissão voluntária e já avisou ao sindicato que dará férias coletivas de 20 dias em fevereiro, depois da folga de Carnaval. Em março, o terceiro turno será suspenso, com o corte de 2 mil trabalhadores.

— Nós defendemos a adoção do PPE, mas a empresa não quer. Se houver cortes, vai ter greve — diz Júlio Bonfim, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Camaçari, onde o polo automotivo emprega dez mil pessoas.

Para Miguel Torres, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, o governo falhou ao não exigir contrapartida de manutenção do emprego ao dar as desonerações:

— O governo abandonou o diálogo com os trabalhadores e deixou de lado a estratégia de implantar uma política de desenvolvimento e industrial. Decidiu oferecer desonerações ao setor automotivo, mas não exigiu contrapartidas com manutenção do emprego. E o resultado é a crise atual, a maior de nossa indústria.

Torres afirma que o metalúrgico desempregado demora pelo menos dois anos para encontrar outra vaga atualmente. Ele também vê a renovação da frota como uma solução para manter as vagas abertas. Torres participa das discussões do plano com outras centrais sindicais, além de Fenabrave — que reúne as concessionárias de veículos—, Anfavea e entidades ligadas ao setor. A ideia é criar um fundo para financiar a renovação da frota, com dinheiro de impostos já existentes e das empresas.

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— É um plano que se autofinancia. Quando estiver em pleno funcionamento, ajudará a salvar empregos — defende.

CARROS MAIS CAROS VENDEM

Algumas montadoras estão conseguindo se salvar da crise com a venda de modelos mais caros, como utilitários esportivos (os SUVs). A japonesa Honda vendeu mais 11% no ano passado. O Honda HR-V foi o SUV mais vendido no país. Na fábrica de Sumaré (SP) no ano passado, além dos dois turnos, houve aumento de quatro horas diárias. Mesmo assim, a montadora opera com metade da capacidade. A fábrica inaugurada em Itirapina (SP) em 2015, com capacidade para 120 mil veículos por ano, nem começou a produzir, por causa da retração do mercado. A empresa informou que não existe data prevista para o início da operação.

No polo automotivo Jeep, na cidade de Goiana, em Pernambuco, janeiro começou com 160 vagas abertas. As contratações ocorrem com o início da produção do segundo carro fabricado no complexo, a picape Fiat Toro.

Fonte: fsindical.org.br