A balança comercial de 2015 fechou com superávit de US$ 19,7 bilhões, bem acima da expectativa do governo federal, de US$ 15 bilhões inicialmente, reestimada para US$ 17 bilhões ao fim do ano passado.
A participação dos industrializados voltou a ter fatia maior que a metade das exportações totais, saindo de 48,5% em 2014 para mais de 51,9% no ano passado. Em 2013 a fatia foi de 51%.
Os manufaturados, mais especificamente, saíram de 35,6% em 2014 para 38,1% no ano passado, perto dos 38,4% de 2013. Os números mantém o horizonte dos analistas de superávit comercial maior ao fim deste ano, com a perspectiva de contribuição positiva do setor externo na economia, o que deve evitar um tombo ainda maior do Produto Interno Bruto (PIB).
Os analistas lembram, porém, que os saldos positivos de 2015 resultaram principalmente de forte queda das importações, em ritmo maior que o recuo das exportações, por conta da retração da economia doméstica. Em dezembro, o superávit comercial foi de US$ 6,24 bilhões, o melhor resultado para o mês na série histórica, com recuo de 4% nas exportações e de 38,7% nas importações, na comparação com mesmo mês de 2014.
O saldo de dezembro contou com o embarque de uma plataforma de petróleo, no valor de US$ 818 milhões, ajuda que não aconteceu em dezembro de 2014. No ano passado, a exportação caiu 14,1% e a importação, 24,3%. A corrente de comércio caiu de US$ 454,26 bilhões em 2014 para US$ 362,59 bilhões em 2015.
O avanço dos industrializados na exportação total também aconteceu porque a queda de 8,1% do valor embarcado foi menor que o recuo médio de 14,1% na exportação total. Em valor, a venda de industrializados ao exterior caiu de US$ 109,28 bilhões em 2014 para US$ 99,25 bilhões no ano passado.
Se não fosse o câmbio, diz Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior, a evolução dos manufaturados teria sido pior. Para ele, os números de 2015 já refletem o esforço da indústria, que tem visto no setor externo uma forma de compensar a retração da demanda doméstica. “Mas há um ciclo a ser cumprido, como a conquista do mercado externo, a organização da rede distribuidora e a liberação do embarque. O resultado do “esforço”, diz Barral, ficará mais claro em 2016 e principalmente, em 2017.
Silvio Campos Neto, economista da Tendências, também avalia que a exportação deve ganhar um pouco de volume em 2016, seja nos básicos ou nos manufaturados. Os preços, porém, nos dois grupos de produtos, tendem a continuar debilitados. Por isso, a estimativa da consultoria é que a exportação suba levemente em relação a 2015. A importação, avalia, deve ter recuo em 2016, em razão da retração doméstica. O efeito do câmbio deve materializar-se, mas de forma vagarosa, na substituição de importação e estímulo à exportação.
A estimativa da consultoria é que o superávit chegue ao fim deste ano em US$ 33 bilhões, mas o número ainda pode passar por revisões, segundo Campos Neto. O Ministério do Desenvolvimento (Mdic) espera superávit de cerca de US$ 35 bilhões graças, entre outros, ao aumento nas vendas de produtos manufaturados, por conta da desvalorização do real.
Segundo estimativa média de 23 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor em dezembro, o superávit será de US$ 33,4 bilhões este ano. A projeção máxima foi de US$ 50 bilhões. Em boletim divulgado ontem, o Brasil Plural diz que a forte contração da economia doméstica e a depreciação cambial devem continuar a ser os principais fatores para balança em 2016, quando se espera superávit de US$ 40,7 bilhões. O relatório diz que o ajuste é positivo para as contas externas, mas pondera que representa contribuição desprezível para a atividade.
A diminuição na queda das exportações e a manutenção da redução nas importações devem permanecer em 2016, diz Daniel Godinho, secretário de Comércio Exterior. “Dezembro reflete bem o que foi 2015: embora as exportações estejam com queda, há clara tendência de recuperação porque é a menor queda mensal desde agosto de 2014. Nas importações, a tendência de queda é crescente”, disse o secretário. Um dos principais fatores que impactou a balança em 2015, diz ele, foi a redução nos preços das commodities exportadas pelo Brasil.
Para Barral, em 2016 o recuo de preços não deve acontecer somente na exportação de produtos básicos. A contenção nos preços das exportações de alguns manufaturados deve acontecer, porque as indústrias brasileiras não terão muito espaço para reajustes. “O exportador precisa conquistar mercados perdidos. Ou seja, para vender, será preciso deslocar um fornecedor que já está lá. O custo de produção continua alto. O câmbio ajuda, mas não é tudo.”
Além disso, diz Barral, o mercado externo não está com demanda alta, em função da recuperação lenta de Europa e EUA e sinais de desaceleração da China. Outro fator importante, avalia, é o perfil da pauta de exportação de manufaturados. “Nós exportamos produtos de baixo valor agregado, o que faz como que o exportador precise ser competitivo no preço.”
Fonte: fsindical.org.br