Mais de 50% das despesas com saúde foram arcadas pelas famílias.
O sistema de saúde é universalizado, mas dados da Pesquisa Conta Satélite de Saúde do IBGE, divulgados nesta manhã de quinta-feira, mostram que há um desequilíbrio: a conta do cidadão tem sido maior do que a do governo. Segundo o estudo, em 2013 o brasileiro gastou 22% a mais do que a União para ter acesso a bens e serviços de saúde. Enquanto o Estado teve um dispêndio de R$ 946,21 por pessoa, o gasto per capita para as famílias ficou em R$ 1.162,14. No país, 55,1% das despesas com saúde foram arcadas pelas famílias, enquanto 44,9% foram cobertas pela administração pública — índices estáveis em relação a 2010, ano de início deste estudo, quando essa divisão ficou 54,8% e 45,2%, respectivamente.
— As famílias gastam mais que o governo ao longo de toda a série da pesquisa. Isso vale para bens e serviços. Se você olha só para serviços, daí o governo gasta mais do que as famílias. O que faz as famílias gastarem mais do que o governo é o gasto com medicamentos. Quando a gente põe medicamentos na conta, os gastos das famílias se tornam maiores do que o do governo. Se olhar só para consulta, exame e internação, o gasto do governo é maior — explica Ricardo Montes Moraes, gerente de coordenação de Contas Nacionais do IBGE.
As despesas com consumo final de bens e serviços de saúde no Brasil atingiram R$ 424 bilhões em 2013, correspondendo a 8% do PIB. Ao longo dos quatro anos dessa série, essa participação ficou estável — foi de 8% em 2010 e de 7,8% em 2011 e 2012. Do total de 2013, R$ 190 bilhões (3,6% do PIB) foram despesas de consumo do governo e R$ 234 bilhões (4,4% do PIB) despesas de famílias e instituições sem fins lucrativo a serviço das famílias. Em 2013, do total do consumo final de bens e serviços de saúde, 77,6% foram destinados ao consumo de serviços e 20,6% a medicamentos. As despesas com consumo final de bens e serviços de saúde representaram 18,9% do total do consumo final do governo e 7,1% dos gastos das famílias.
— Se você pegar os países da Europa, o gasto público é massivo. É pelo menos 80% do gasto total com saúde porque a estrutura dos serviços é pública. Se pegar México, Chile, é mais parecido com o gasto brasileiro. De modo geral, a Europa tem gasto público maior. Até a parte dos medicamentos é paga pelo governo — diz Moraes.
No bolso das famílias pesaram mais os serviços privados de saúde, que responderam por 62% dos gastos com saúde em 2013 — dois pontos percentuais a mais do que em 2010. Caiu a parcela do orçamento das famílias para gastos com saúde dedicado à compra de medicamentos. Eles equivaliam a 37% do total das despesas em 2010, e passaram para 34% em 2013.
A participação das atividades de saúde na renda gerada no país (valor adicionado) aumentou em todos os anos da série, passando de 6,1% em 2010 para 6,5% em 2013. A atividade com maior participação foi saúde privada, chegando a R$ 103 bilhões (2,2%) em 2013, mas o maior aumento de participação foi observado no comércio de produtos farmacêuticos, perfumaria e médico/odontológicos, que passou de 1,1% do valor adicionado total (R$ 36,1 bilhões) para 1,4% (R$ 62,2 bilhões) no período 2010-2013.
Em relação a exportações de bens e serviços de saúde em 2013, 18,6% das preparações farmacêuticas (por exemplo, gazes, curativos, iodo, água oxigenada etc.) disponíveis no país foram exportadas. Por outro lado, 74% dos produtos farmoquímicos (matéria prima para produção de medicamentos), 37,1% dos outros materiais médicos e odontológicos e 24,5% dos medicamentos para uso humano foram importados.
— Em 2013, 3,15% do que importamos eram bens e produtos de saúde. Com relação as exportações, correspoderam a 0,7% do total das exportações brasileiras — complementa Moraes.
Fonte: fsindical.org.br