Alta de mais de 45% da moeda americana em 12 meses afetou alimentos.
Os alimentos responderam por mais de 25% da inflação acumulada nos últimos 12 meses até novembro. A taxa, divulgada nesta quarta-feira pelo IBGE, ficou em 10,48% e chegou aos dois dígitos pela primeira vez desde 2003. A valorização do dólar, que no mesmo período acumulou alta de 45,15%, teve forte influência na elevação dos preços desse grupo.
A alta da moeda americana foi sentida na compra de insumos com custo ligado ao câmbio — como fertilizantes e máquinas e equipamento — e na concorrência com as exportações. Com dólar mais alto, fica mais atraente vender para o exterior e a oferta se reduz no mercado doméstico, pressionando o preço dos alimentos, como no caso de arroz e carne.
— A pressão forte no preço dos alimentos é o câmbio, que está no adubo, nas máquinas. Recentemente, teve efeito de chuva, e também a questão do frete, por causa do aumento do preço do diesel. E também tem a influência de exportações. Como o dólar está alto, a concorrência é alta. O câmbio traz uma avalanche de aumentos — explicou Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de índices de preços do IBGE.
A inflação de 2015, explicou Eulina, foi resultado de uma combinação de reajuste de itens importantes para o orçamento das famílias — como energia e combustíveis — com a alta do dólar, que afeta diferentes custos, em especial de alimentos.
— Este ano foi caracterizado por fortes reajustes em itens monitorados, que são itens importantes e insubstituíveis para as famílias, como energia e taxa de esgoto. Houve aumento de combustíveis, que contaminam outros itens. Além disso, o câmbio aumentou mais de 50% no ano, que afeta alimentos e está presente em vários itens.
Metade da alta da inflação em 12 meses (51,34%) veio apenas de alimentos, energia elétrica e combustíveis. Da taxa de 10,48%, pouco menos de um terço (27,39%) veio de alimentos, 14,41% de energia elétrica e 9,54% de combustíveis.
Nos 12 meses encerrados em novembro, os preços de alimentos subiram 11,56%, enquanto a energia elétrica teve alta de 51,27%. A energia teve individualmente a maior influência na alta do IPCA no período, com impacto de 1,51 ponto percentual dos 10,48%.
A coordenadora de índices de preços do IBGE explicou que, diferentemente de 2014, quando a inflação alta era resultado do aumento dos preços de serviços, em 2015 as razões são mais amplas.
— Em 2014, a inflação subia via pressão de serviços, então a culpa era dos serviços. Nesse ano de 2015, essas culpas ficaram mais variadas, como a dos preços administrados e monitorados, que tiveram trégua no passado e agora subiram. Os fatores de causa da inflação se diversificaram.
Considerado a inflação oficial no país, o IPCA acelerou de 0,82% para 1,01% na passagem de outubro para novembro. É a maior taxa para o mês desde 2002, quando foi de 3,02%. O resultado veio acima do esperado pelo mercado. Analistas consultados pela Bloomberg News esperavam, em média, uma inflação de 0,95%, com estimativas entre 0,86% e 1,04%. No ano, a taxa é de 9,62%, mais alta desde 2002.
Fonte: fsindical.org.br