Criar empregos para jovens é desafio de todo o G-20

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O ano de 2015 revelou mais um dado preocupante para os integrantes do G-20 – mais de 16% dos jovens que fazem parte da população economicamente ativa desse grupo de países estão desempregados.

 

Para reverter esse cenário é necessário adotar com urgência uma cultura de suporte ao empreendedorismo, sob a pena de as nações que compõem o bloco não avançarem no desenvolvimento de empresas de alto impacto. O alerta foi dado pelo levantamento From classroom to boardroom: creating a culture for high-impact entrepreneurship (Da sala de aula à sala de reuniões – criando uma cultura para empreendedorismo de alto impacto, elaborado pela EY.
O estudo aponta seis recomendações para que os governos consigam incentivar o empreendedorismo e engajar a juventude. Entre elas está a criação de um visto multilateral para empreendedores e startups no G-20. Trata-se de uma solução de curto prazo para melhorar a realização de negócios internacionalmente e o compartilhamento de uma cultura empresarial entre todos os membros do grupo. Alguns países, entre eles o Canadá e o Reino Unido, já oferecem sistemas semelhantes de visto destinado a empreendedores e startups.

Em recente visita ao Brasil, Roham Malik, líder global de mercados emergentes da EY, e um dos responsáveis pelo estudo, falou com exclusividade ao Valor sobre o papel dos governos na mudança desse cenário e qual a situação do Brasil.

Valor: Qual o cenário encontrado pelo levantamento entre os integrantes do G-20?

Roham Malik: Hoje, nos 20 países do bloco há 75 milhões de jovens desempregados e 350 milhões é o número daqueles que não estão nem na escola, nem trabalhando e nem em nenhum tipo de treinamento. Um número alarmante, que se repete pelo mundo. Criar empregos para os jovens é um grande desafio. Estive este mês no Peru, durante a reunião do Banco Mundial, com a presença de representantes de vários países, entre eles o Brasil, e o tópico mais discutido era do desemprego entre os jovens. Nove entre 10 empregos são gerados pela iniciativa privada e, no caso do G-20, 75% da geração de empregos está nas mãos dos empreendedores. Governos ao redor do mundo sempre viam as grandes corporações como agentes de criação de empregos e não os empreendedores. A realidade, porém, é bem diferente.

Valor: Como incentivar, então, o crescimento do empreendedorismo?

Malik: Há dois anos, entrevistamos 1.500 jovens, dos 20 países integrantes do G-20, incluindo o Brasil. Os jovens apontaram as principais barreiras para o desenvolvimento do empreendedorismo, entre elas, acesso a financiamento (capital semente, apoio a criação de startups, expansão e capital de crescimento); apoio do governo (incentivo a taxas, regulamentações, facilidade de abrir uma empresa e políticas e legislações facilitadoras dos negócios); educação e treinamento (antes da universidade, na universidade, treinamento específico para empreendedorismo, experiência de vida); cultura empreendedora (tolerância ao risco e ao fracasso, preferência por tocar o próprio negócio, cultura de inovação e pesquisa, além da celebração do próprio sucesso) e suporte para todos os pilares a partir de mentores, orientadores, redes de relacionamento, incubadoras de empresas, clusters, parques tecnológico e centros de negócios. Transformamos essas cinco barreiras em cinco pilares de avaliação dos países. Ao cruzar os dados, constata-se que os países que apresentam melhor avaliação em cultura empreendedora são os que revelam melhores performances nos demais quesitos.

Valor: Qual o caminho para se estabelecer um ecossistema eficiente de apoio ao empreendedorismo?

Malik: O desenvolvimento do empreendedorismo é responsabilidade de três agentes: corporações, governo e empreendedores. É necessário ter a intersecção do trabalho desses três atores para dar força à cultura empreendedora e acelerar a criação de empregos. Temos a falsa ideia de que é preciso pelo menos uma geração para mudar a cultura do empreendedorismo. Mas isso é um mito. Há ações de curto prazo, de até 12 meses, que podem transformar esse cenário O estudo fala sobre seis recomendações específicas, em diversos momentos. 1º Criar um visto multilateral para empreendedores e startups no G-20, que concentra 80% do PIB mundial; 2º Encorajar o networking internacional; 3º Começar a ensinar o empreendedorismo mais cedo; 4º Fomentar os programas de ensino de empreendedorismo no ensino médio e na universidade, com foco em educação vocacional em parceria com a indústria. No médio prazo – (em até três anos): 5º Focar em ‘qualidade’ de empreendedorismo e de empregos. No longo prazo (cinco anos): 6º Estabelecer programas que unam cultura e educação de forma a impactar esse cenário.

Valor: O governo é o principal agente dessa mudança?

Malik: O governo é o responsável pelo início da transformação em todos esses pontos, mas precisa dos demais atores para que isso ganhe escala. Cabe a ele criar e promover políticas educativas que deem suporte para as futuras gerações de jovens empreendedores, ou correm o risco de perder anos de crescimento do emprego e de novas formas de inovação. O estudo revela que apenas 15% dos empreendedores no G-20 acreditam que seu país possui uma cultura de incentivo ao empreendedorismo.

Valor: O senhor pode citar alguns bons exemplos?

Malik: No Reino Unido, universidades como Cambridge e Oxford se transformaram em hubs de inovação, transferindo o conhecimento da academia para o mundo dos negócios, solucionando, assim, os problemas da sociedade. Um outro exemplo é o do Canadá, que tem se conectado com o Brasil a fim de promover o intercâmbio entre as empresas canadenses e o mercado brasileiro. Em maio, o governo bancou a vinda de 50 empreendedoras canadenses a São Paulo, representantes de áreas que realmente pudessem fazer a diferença. As empresárias participaram de mais de 50 encontros com companhias brasileiras. A ideia era promover uma explosão de negócios canadenses no Brasil em um futuro próximo.

Valor: E o cenário do Brasil está na média dos demais países?

Malik: O Brasil está muito bem posicionado em relação ao suporte ao empreendedorismo. Tem boas universidades, uma rede de incubadoras bem estruturada e uma veia empreendedora forte. Entretanto, o país não se destacou no quesito cultura empreendedora, já que as ações são esparsas. Falta aglutinação. Há um gap grande entre educação e estratégia. Mas, é importante observar que entre os países emergentes, os índices brasileiros ficaram atrás apenas da África do Sul.

Fonte: fsindical.org.br