Ensino básico deficiente é barreira em cursos

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A educação profissional, um dos caminhos que poderia elevar a produtividade do trabalho e da economia, ainda “patina” no Brasil. O ensino básico deficiente e a tradicional aspiração da população ao ensino superior tornam mais difícil o desafio de ampliar o pouco espaço que cursos técnicos ocupam na matriz educacional. Só 8,4% dos jovens brasileiros conciliam o ensino médio com a educação profissional, percentual bem menor que o de Áustria (76,8%), Finlândia (69,7%), Alemanha (51,5%) e União Europeia (49,9%), mostram dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

A perspectiva de melhoria nesse quadro fica mais distante em ano de ajuste fiscal: o governo deve oferecer, até 2018, apenas metade das vagas prometidas para o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec).

Na WorldSkills, maior competição de educação profissional do mundo, realizada no mês passado no Brasil, defensores da “bandeira” do ensino técnico comemoraram o excelente desempenho da delegação brasileira, que ficou em primeiro lugar no ranking total entre mais de 60 países (veja em O ‘faz-tudo’ do passado está mais para técnico de futuro o quadro com o ranking). “A educação profissional não conflita com a superior. Leva o jovem mais rápido ao mercado de trabalho, mas ele continua estudando e chega à universidade”, diz Felipe Morgado, gerente-executivo de educação profissional nacional do Senai.

O bom desempenho dos competidores brasileiros encobre lacunas no ensino básico evidenciadas no fraco conhecimento demonstrado pela maior parte dos estudantes que chegam aos cursos do Senai e do Senac – principalmente em português, matemática e ciências, áreas mais ligadas à educação profissional. “A dificuldade na educação básica é o principal entrave ao avanço da educação profissional”, diz Morgado. “Imagina a dificuldade que é trazer a educação profissional para o nível dos melhores do mundo quando estamos em 60º lugar no Pisa (sigla em inglês para o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes).” Ele destaca que grande parte dos alunos do Senai vem de escolas públicas.

A crise econômica dificulta ainda o financiamento do ensino técnico. A verba que custeia os cursos do Senai, por exemplo, varia de acordo com quantidade de trabalhadores na indústria, já que vem da contribuição compulsória das empresas com 1% do valor da folha de pagamento. No ano passado, foram R$ 2 bilhões para 3,64 milhões de matrículas.

“Não significa que o aluno tem que saber toda a matemática e toda a língua portuguesa, mas áreas específicas, como geometria e a leitura de manuais”, explica Morgado. Antes de abrir cursos em determinadas cidades, o Senai dedica cerca de 20% do tempo das aulas para o reforço do conteúdo de em português e matemática básicas, de acordo os “gaps” educacionais dos alunos.

Outro obstáculo é o estigma associado às carreiras técnicas, vistas como opções para a baixa renda. “Nos outros países eles têm orgulho de dizer: eu sou um mecânico, sou pedreiro”, diz Morgado, para quem o preconceito está ligado à falta de informação. “Muitas das profissões expostas da WorldSkills os jovens nem conhecem”, afirma.

A tendência “bacharelista” observada no Brasil cria nos jovens o sonho de concluir um curso universitário sem considerar a demanda do mercado. “As profissões do ensino técnico são bem remuneradas, gratificantes no que se refere à tecnologia, que interessa aos jovens”, diz Morgado, que rebate também o “mito” que associa as carreiras técnicas à força física. “Hoje as máquinas estão trabalhando pelo ser humano. O que se exige é esforço intelectual.”

// Fonte: Força Sindical