Brasil fica abaixo da média em ranking global que mede qualidade de vida e bem-estar de quem tem mais de 60 anos
A falta de segurança e independência, em especial com relação à mobilidade, continuam a ser fatores que pesam na qualidade de vida dos idosos brasileiros, mostra a edição 2015 do “Global AgeWatch Index“, índice que mede o bem-estar da população com mais de 60 anos de cada país elaborado pela rede de organizações de defesa e proteção dos direitos da terceira idade HelpAge International.
No novo ranking, que será lançado hoje durante evento na sede da Organização das Nações Unidas (ONU) para discutir melhorias na coleta e análise de dados relativos a esta fatia população, que cresce de importância num mundo cada vez mais envelhecido, o Brasil avançou apenas duas posições frente ao ano passado, ficando em 56º lugar numa lista de 96 países para os quais foi possível encontrar informações pertinentes e comparáveis para esta faixa etária.
O próprio tamanho do ranking é uma amostra das dificuldades em obter dados sobre os idosos que sirvam para orientar políticas públicas para eles e serão alvo do encontro de hoje em Nova York: mais da metade das nações integrantes da ONU, 98, ficaram de fora da lista pela simples falta de informações sobre um ou mais componentes do índice, divido nos temas renda (cobertura de aposentadorias e pensões, taxa de pobreza e bem-estar relativo ao PIB), saúde (expectativa de vida total e saudável aos 60 e bem-estar psicológico), capacidade (perfil educacional e acesso a empregos) e ambiente (conexões e inclusão sociais, segurança física, liberdade civil e acesso a transportes públicos). Apesar disso, o ranking cobre 91% da população mundial com idade igual ou superior a 60 anos. São cerca de 901 milhões de pessoas, ou aproximadamente 12,3% da população global.
— O grande destaque deste ano é que milhões de idosos continuam invisíveis, vivendo em países onde as informações sobre sua qualidade de vida não existem nos bancos de dados — diz Toby Porter, presidente da HelpAge International. — Isto é particularmente chocante na África, onde só havia dados suficientes para incluir 11 de seus 54 países. Consequentemente, sabemos mais sobre as necessidades dos idosos da Noruega e de Luxemburgo, dois dos países mais ricos do mundo, do que o que precisam os idosos da Libéria e do Burundi, dois dos mais pobres.
Em relação ao Brasil, a HelpAge se baseou, principalmente, em informações do Ministério da Previdência Social e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que apontava 23,5 milhões de pessoas idosas vivendo no país em dezembro de 2013. Aqui, o melhor desempenho em foi em garantia de renda, no qual o Brasil ocupa o 13° no ranking geral, devido principalmente à ampla cobertura de aposentadorias e pensões e a baixa taxa de pobreza na velhice (8,8%). Dos 23,5 milhões de idosos brasileiros vivos no fim de 2013, 21,52 milhões, ou 81,9%, recebiam algum tipo de aposentadoria, pensão ou outra forma de assistência social.
— A alta cobertura da aposentadoria em relação a outros países é sabida. O idoso recebe ao menos um salário-mínimo e o valor é razoável se comparado à renda média no país. É por isso também que a taxa de pobreza entre os idosos é baixa — avalia Cássio Turra, professor do Departamento de Demografia da Universidade Federal de Minas Gerais.
Já no quesito saúde, o Brasil ficou em 43º no ranking global, com uma expectativa de 21 anos de vida a partir dos 60 anos de idade, dentro da média mundial. No Japão, por exemplo, a esperança de vida após os 60 anos é a maior do mundo e chega a 26 anos. No outro extremo está o Afeganistão, onde esta expectativa é de 16 anos. No quesito capacidade, que mede acesso emprego e nível educacional, o Brasil também ficou perto da média global, em 58º lugar na lista.
Diante disso, o que continua a pesar para a má colocação do Brasil é a categoria ambiente, que mede a percepção dos idosos de sua capacidade de se conectar a outras pessoas e à sociedade, de usar transporte público e sua sensação de segurança física. Como no ano passado, o Brasil está nas últimas posições no quesito, com um 87º lugar entre 96 países. Em 2013, na primeira versão do índice, compilado com uma metodologia ligeiramente diferente, o Brasil estava bem melhor neste campo, na 40ª posição, mas a deterioração do ambiente social, com o crescimento da violência e a onda de protestos que varreu o país a partir de junho daquele ano, acabou empurrando seu índice para baixo.
Para Suzana Cavenaghi, professora e pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola de Ciências e Estatísticas do IBGE, o Brasil está em posição ruim na lista, mas merecida, já que o país não ofereceu aos idosos de hoje condições de trabalho contributivo no passado, assim como faz com muitos jovens de hoje, o que a deixa pessimista quanto ao futuro ao analisar o mercado de trabalho atual. — O fato de 82% dos idosos receberem alguma pensão não significa que seja uma aposentadoria contributiva, pode ser apenas uma pequena pensão resultado de uma política de assistência social — diz. — E, ao olhar para frente, vejo que os jovens de hoje terão problemas semelhantes. É um quadro desolador. Não há impulso na educação nem no emprego formal. Sem contribuição, essas pessoas, provavelmente, estarão na mesma situação dos idosos atuais quando chegarem na velhice. E o contingente será maior.
// Fonte: Força Sindical