Nas cidades-polo do setor automotivo, desemprego já atinge outros setores

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A demissão ou a colocação de trabalhadores em layoff pela indústria de material de transporte (montadoras e autopeças, principalmente) já afeta o emprego formal em outros setores das cidades-polo desse setor. No acumulado de janeiro a setembro, em 6 dessas 11 cidades brasileiras já há demissões líquidas nas outras áreas (já descontada a indústria de material de transporte).

No ano, até setembro, esse setor fechou 27,5 mil vagas formais, considerando a diferença entre admitidos e demitidos pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).

Olhando apenas os últimos cinco meses desse período, a situação piora e em oito delas já há desemprego (demissões superiores às admissões) nos demais setores, segundo os dados do Caged desdobrados por município.

O levantamento leva em conta as cidades de São Bernardo do Campo, São Caetano, São José dos Campos, Taubaté e Indaiatuba, todos no Estado de São Paulo, além de Camaçari (BA), Catalão (GO), Betim (MG), Porto Real (RJ), Gravataí (RS) e São José dos Pinhais (PR). Elas foram selecionadas porque nelas o emprego com carteira assinada na indústria de transformação corresponde a 10% ou mais do emprego formal total do município.

Na maioria dessas cidades, as montadoras de veículos ou caminhões adotaram planos de demissão voluntária ou suspenderam temporariamente o contrato de trabalho de parte de seus funcionários.

No acumulado de janeiro a setembro, em número de trabalhadores, as piores situações de desemprego estão na paranaense São José dos Pinhais, com corte de 3.122 vagas formais, e na paulista São Bernardo do Campo, com menos 3.716 empregos formais. Proporcionalmente, contudo, é a pequena Porto Real, localizada no Sul Fluminense, que enfrenta a pior situação. As demissões totais somam 2.109 vagas (1.517 na indústria de transporte e 592 nos demais segmentos da economia local), o que representa, de acordo com os dados do Caged, 18,5% do emprego formal na cidade.

O secretário de Desenvolvimento, Trabalho e Renda de Porto Real, Eduardo Linhares, diz que os números do Caged sugerem uma realidade muito mais dramática do que a vivida pela cidade porque os dados do desemprego do cadastro do ministério consideram os trabalhadores em layoff como demitidos.

A cidade é sede da Peugeot, que colocou 650 funcionários em lay off em fevereiro e depois adotou um programa de demissão voluntária, e de uma unidade da Coca-Cola, que, segundo Linhares, também fez dispensas este ano, além de empresas de autopeças que fornecem para outras montadoras instaladas no polo automotivo regional.

“Há um efeito-sanfona, mas como muitos dos trabalhadores não moram na cidade, mas na região, o efeito é diluído. E já percebemos que as autopeças voltaram a contratar”, diz Linhares. O secretário também avalia que a produção de caminhões já está em recuperação, bem como as exportações para a Argentina já dão sinais de retomada.

Em algumas cidades, o quadro se deteriorou bastante no período maio-setembro. Em São José dos Pinhais, nos primeiros quatro meses do ano, as demissões ainda estavam concentradas na indústria automotiva (509), enquanto no resto da economia haviam sido criados 282 empregos. Nos últimos cinco meses, foram mais 1.117 dispensas em material de transporte, enquanto começaram demissões nos outros setores, que chegaram a 1,8 mil dispensas líquidas, somando 2,8 mil demissões na cidade.

A mineira Betim viveu situação semelhante. Até abril, nem a indústria automotiva havia demitido, e foram criados 1.062 novos empregos na cidade, dos quais 726 em material de transporte. Mas de maio a setembro, esse setor cortou 1.124 vagas e os demais setores fecharam 1,5 mil empregos, provocando uma queda de 2,6 mil empregos formais na cidade nos últimos cinco meses.

Silmara Claudino, diretora da Secretaria do Trabalho de São José dos Pinhais, diz que as demissões ainda não provocaram um aumento na procura pelos cursos de qualificação oferecidos pelo município. “Sentimos que alguns demitidos do setor automotivo procuraram os cursos, mas ainda são poucos”, diz ela.

O aumento das demissões, explica, elevou a demanda pelo seguro-desemprego em toda a região metropolitana de Curitiba. “A procura está cada vez maior”, informa Silmara. Ela explica que o agendamento é eletrônico e abre todo dia 15, mas que antes o atendimento presencial demorava 15 dias e agora demora de 45 a 60 dias, em função da maior procura.

Em Taubaté, no interior paulista, os dados do Caged indicam que no ano foram fechados 812 postos de trabalho na indústria de material de transporte. de janeiro a setembro. Parte desse total corresponde aos trabalhadores que aderiram ao plano de demissões voluntárias da Volkswagen local. Preocupada com o efeito dessas demissões na cidade, a prefeitura fez um convênio com o Sebrae e o Senai e fez um curso de empreendedorismo. No total, 600 pessoas participaram e dessas, 400 abriram um microempresa.

“Em três dias, a pessoa podia abrir seu próprio negócio, já com inscrição no ISS, alvará de funcionamento, tudo pronto para operar e dar nota fiscal”, explica Gutemberg Ramos, do grupo executivo e industrial da Secretaria de Desenvolvimento e Inovação de Taubaté. “O Caged não capta essa mudança da pessoa que antes era empregada e se transformou em dono do próprio negócio”, pondera Santos.

Nas 11 cidades onde os empregos em material de transporte representam 10% ou mais do emprego formal, apenas 2 municípios não registram corte de vagas nesse segmento no ano: a baiana Camaçari, com 23 novas vagas, e a goiana Catalão, com 118 novos empregos. Essas duas cidades também têm um saldo positivo no total do emprego formal na cidade, situação que também aparece em São Caetano, no ABC paulista. Na cidade, onde está instalada uma fábrica da GM, o saldo de empregos na cidade é positivo, apesar das demissões no setor automotivo.

// Fonte: Força Sindical