Assim que retornou da licença-maternidade, em maio deste ano, após dar à luz a segunda filha, Aline Cristina Nogueira, de 23 anos, teve uma surpresa ruim. Seu setor na linha de montagem de placas eletrônicas na empresa Emicol, em Itu, interior de São Paulo, tinha sido praticamente extinto e ela estava na lista de demissões.
“Éramos em 12 trabalhando em dois turnos e fazíamos 1.200 placas para máquinas de lavar por dia. Na minha volta, o que encontrei foram apenas três ou quatro fazendo turno único”, relembra. A empresa produz componentes para a indústria de produtos da chamada linha branca.
Depois de dois anos e quatro meses naquele que foi seu primeiro emprego, a dispensa não poderia ter ocorrido num momento pior. O marido, Thiago Antonio dos Santos, de 32 anos, também estava desempregado e a família – o casal, as filhas Kethlyn, de 8 anos, e Kamilly, a segunda filha, além do irmão de Aline, Pedro Henrique, de 12 – dependiam do salário da Emicol. “Bateu um desespero porque, para complicar, ficamos sem o plano de saúde e eu tinha pegado uma bactéria no estômago e estava em tratamento.”
Thiago ainda conseguiu trabalho como frentista, mas acabou desistindo após um assalto em que foi agredido pelos bandidos. Sem alternativa, Aline teve a ideia de vender roupas de porta em porta no bairro onde a família reside, na periferia de Itu. “Graças ao trabalho na Emicol, tínhamos o carro e a casa reformada. Com o dinheiro da rescisão, fomos a São Paulo e fizemos a primeira compra.”
O comércio informal deu tão certo que, semanas depois, o carro foi “despejado” e a garagem, transformada numa pequena loja. À noite, as araras são desmontadas e o veículo, que passa o dia na rua, é recolhido. O casal já pensa em alugar um espaço maior para ampliar o comércio. “Uma porta fechou, outra está se abrindo para nós”, diz Aline, feliz por ficar mais tempo com as filhas.
Férias sem volta
O engenheiro Rogério Santos de Souza, de 39 anos, também sofreu um “baque” ao ser comunicado pelo gerente, no dia 12 de junho, de que teria férias sem retorno. “Minha vida toda passei dentro da fábrica. Entrei com 14 anos, como ajudante geral e fui subindo.” Ele passou por várias divisões do setor de qualidade e ultimamente estava em compras. Em 2009, a Emicol o ajudou a realizar um sonho: “Queria fazer faculdade e eles me ajudaram a pagar o curso de engenharia mecatrônica.”
Foi na empresa que Rogério conheceu sua mulher, Fernanda, de 33 anos, funcionária do setor de custos, com quem teve os filhos Gabriel, de 9 anos, e Robson, de 5. Após o nascimento do segundo filho, Fernanda decidiu sair da Emicol, onde estava havia seis anos, para ficar com as crianças. “Na época eu já ganhava bem e dava para segurar, mas não tinha como prever a crise que estava por vir”, conta o marido.
A família mora em casa própria, no bairro Chácara Flórida, e tem dois carros. Além de trabalhar em casa, Fernanda faz faculdade de biologia. Souza acredita que o salário, em torno de R$ 4,5 mil, precipitou o corte. “Eles alegaram redução de custos e cortaram muita gente. Quem sai de férias não sabe se volta”, disse. Ele se lembra de outra crise igual, em 1990, em que muitos foram demitidos. Depois, a empresa cresceu e chegou a ter 1.700 funcionários, mas a crise voltou este ano.
O engenheiro recebe o seguro-desemprego, mas já está atrás de trabalho. “O que a gente houve falar é que emprego está em baixa por causa da eleição e dos chineses. Se não achar algo fixo, vou fazer bicos na construção civil.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
// Fonte: Força Sindical