Depois de acelerar em ritmo mais forte no início do ano, o avanço dos salários começa a dar sinais de enfraquecimento.
Em abril, como mostra a Pesquisa Mensal de Emprego (PME), o rendimento médio real do trabalho recuou 0,6% sobre março, para R$ 2.028, quando já tinha diminuído 0,3% em relação ao mês anterior. No confronto com igual período de 2013, o ritmo ainda é forte, com alta de 2,6%, mas já está a um ponto percentual de distância da variação de janeiro, de 3,6%.
Mariana Hauer, do banco ABC Brasil, afirma que a inflação elevada no mês passado ajudou a corroer o ganho dos salários. Em abril, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), deflator usado na pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), acelerou de 5,6% para 5,8% em doze meses.
A redução dos salários, contudo, é também um reflexo da perda de fôlego da atividade, pondera a economista. Caso se mantenha nos próximos meses, essa perda de valor pode motivar as pessoas que estavam fora do mercado – porque eram sustentadas pelo aumento da renda familiar, por exemplo – a buscar novamente uma vaga e pressionar o indicador de emprego. “Mas ainda não esperamos que a taxa suba muito neste ano. Ela deve oscilar em torno desses 4,9% que vimos em abril”, estima.
Rafael Bacciotti, da Tendências Consultoria, ressalta que, além da remuneração média, a massa de rendimentos – o volume de recursos efetivamente disponível para o consumo -, também diminuiu no mês passado, em 0,5% sobre março. A retração é a segunda consecutiva neste ano e resulta da combinação entre o ritmo fraco de geração de vagas e o menor aumento da renda por trabalhador.
Divulgado ontem, o levantamento do IBGE mostrou que a taxa de desemprego passou de 5% para 4,9% em abril. A saída de pessoas do mercado de trabalho, traduzida nos números negativos de incremento da População Economicamente Ativa (PEA), continua sendo um dos principais responsáveis pela manutenção da taxa em patamar historicamente baixo. Em abril, a PEA caiu 0,1% sobre março e 0,8% na comparação com o mesmo mês do ano passado.
Mariana, do ABC Brasil, chama atenção para o crescimento da População não Economicamente Ativa (Pnea). Em relação a abril de 2013, o grupo daqueles com idade para trabalhar, mas que preferem não fazer parte do mercado de trabalho ganhou 772 mil pessoas, um aumento de 4,2%. “Isso reitera a análise de que os jovens demoram cada vez mais para entrar no mercado”, diz.
A ocupação continuou avançando modestamente. Nas seis regiões metropolitanas que compõem a amostra da pesquisa, ela subiu 0,1% tanto sobre o mês anterior como ante abril de 2013. O resultado veio em linha com o cenário mostrado nesta semana pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), com a indústria registrando a maior queda no nível de emprego, de 1,9% sobre março.
Adriana Beringuy, técnica da coordenação de trabalho e rendimento do IBGE, observa que, mesmo os segmentos que poderiam ser estimulados pela Copa, como a construção civil e os serviços de alojamento, armazenagem e transporte, também não registraram um aumento significativo nas contratações até abril. “Temos de esperar o evento em si para ver se vai haver impacto positivo”, afirma.
Fonte: Força Sindical