A indústria de transformação reagiu à desaceleração da atividade econômica e encerrou abril com menos 3,4 mil vagas no mercado formal.
Esta foi a primeira vez desde 2001, pelo menos, que o setor fechou empregos nesse mês, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Demissões líquidas nessa época do ano estão totalmente fora do padrão sazonal e nem em 2009, durante a recessão, a indústria fechou postos de trabalho em abril. Os cortes foram puxados por São Paulo e mais significativos nos segmentos de material de transporte, metalurgia e mecânica.
Nesses três ramos, somados, o saldo negativo entre admitidos e demitidos foi de 9,8 mil pessoas no mês passado, 8,1 mil só no Estado de São Paulo. O segmento de material de transporte já vinha demitindo nos meses anteriores, mas agora a crise na produção de automóveis se espalhou para outros segmentos. Para Fabio Romão, da LCA Consultores, a expectativa de retração de 4,6% nos licenciamentos neste ano, depois da queda de 3,1% em 2013, não abre espaço para uma recuperação do emprego no setor automotivo no médio prazo. Para este ano, o economista projeta um saldo fraco de abertura de vagas para a indústria, de 63 mil (90,7 mil em 2013), garantido pelo desempenho de setores como químico, têxtil e de calçados e couro, que ainda estão contratando, ainda que de forma bem moderada.
O Caged mostrou criação de 105,3 mil vagas de trabalho em abril, 46,5% a menos que em igual período do ano passado. Além da indústria, que havia aberto 40,6 mil vagas no mesmo mês do ano passado, também tiveram forte desaceleração no ritmo de geração de emprego a construção civil (32,9 mil vagas em abril de 2013 e 4,3 mil no mês passado) e a agropecuária (de 24 mil para 14 mil). “Esses três resultados foram muito negativos”, observa o economista-chefe do banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves.
Para ele, “o mercado formal reagiu à desaceleração da atividade”. Ele pondera que, após as dúvidas quanto ao ritmo real da atividade no começo do ano – geradas pela diferença no número de dias úteis em fevereiro e março, entre outras razões -, ficou mais claro que o quadro é muito ruim. “Aquela ideia de que as empresas poderiam segurar o emprego acabou”, avalia ele. Para Gonçalves, o mercado de trabalho tende a mostrar mais claramente, a partir de agora, os efeitos da desaceleração econômica.
O ministro do Trabalho, Manoel Dias, também creditou o baixo número de empregos abertos à conjunção do cenário econômico adverso e à situação de pleno emprego no país. “Os dados do IBGE mostram que estamos em situação de pleno emprego. Não dá pra continuar tendo acréscimo espetacular [no emprego formal] como tivemos nos anos anteriores. Além disso, diminuiu o crescimento do PIB [Produto Interno Bruto] nos últimos anos”, avaliou.
Economistas e empresários não esperam ajuda da Copa do Mundo e das eleições nos próximos meses. Pelo contrário. A expectativa é que, no conjunto da economia, esses eventos atrapalhem o ritmo de crescimento. O presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Calçados, Heitor Klein, diz que a Copa do Mundo deve afetar negativamente a venda de calçados porque as famílias tendem a destinar a renda disponível para consumo para outros bens e serviços, mais ligados aos jogos.
O setor de calçados e confecções aparece, na estatística do Caged, como um dos poucos segmentos da indústria com maior criação de vagas em relação ao ano passado: foram 20,5 mil empregos a mais entre janeiro e abril do ano passado e 21,2 mil em igual período de 2014. “Esse dado não reflete um boa notícia para nosso setor porque o ano passado é uma base ruim de comparação”, explica Klein. Além das vendas internas fracas, as exportações não reagiram. Para a Argentina, o Brasil enviou 1,1 milhão de pares, 44% menos que no primeiro quadrimestre de 2013. Em valor, a queda foi de 51%.
O ministro tem avaliação diferente e espera um aquecimento no mercado de trabalho nos próximos meses. “Haverá expansão de emprego em maio e junho por conta da Copa”. Dias acredita que “há setores” que estão manipulando o cenário por conta da disputa eleitoral, inclusive incitando manifestações e greves. “Partidos políticos estão explorando isso. Há três candidaturas postas disputando as eleições presidenciais. É um momento onde essas manifestações ficam em evidência”, afirmou.
Mesmo esperando um aquecimento, Dias disse que o governo pode reavaliar sua projeção de criação de 1,5 milhão de empregos. “Vamos reavaliando, mas mantemos a projeção”. Até abril foram abertas 458 mil vagas, 16% menos que em igual período do ano passado.
Fonte: Força Sindical